EDIÇÃO 23 » COLUNA INTERNACIONAL

Mão ‘Mágica’ no L.A. Poker Classic

Bem jogada por Antonio Esfandiari


Phil Hellmuth

No final de fevereiro, fui ao Commerce Casino em Los Angeles para jogar o Los Angeles Poker Classic de $10.000, válido pelo WPT. Esse torneio dura seis dias, e é bastante prestigiado. No ano passado, ele teve uma das melhores mesas finais da historia do World Poker Tour, com Phil Ivey (campeão), Quinn Do (segundo lugar), Nam Le (quarto lugar), Scott Montgomery (quinto lugar) e eu (sexto lugar). Eu tinha uma grande liderança em fichas na mesa final, mas não consegui transformá-la em vitória. Algumas semanas atrás, escrevi sobre uma mão do LAPC 2009 discutindo minha tática de fazer slowplay com KQ quando eu estava short-stack. Agora eu quero falar sobre uma mão do LAPC 2009 que Antonio “The Magician” Esfandiari jogou com mucho gusto.

No Dia 1, encontrei Esfandiari e perguntei para ele: “Você já está com a liderança em fichas?”

Ele disse: “Cara, eu quase não passei dos primeiros níveis!”

Eu falei: “Eu perguntei porque você parece ter uma liderança enorme de fichas todos os anos”.

Esfandiari parou e pensou durante um segundo, então falou: “Você está certo: eu sempre tenho a liderança de fichas aqui”.

Esfandiari terminou o dia com apenas 29.000 em fichas (nós começamos com 20.000), mas no Dia 2, comecei a ouvir rumores de que ele estava subindo. De repente, anunciaram que Esfandiari era o chip leader, e que tinha ultrapassado a marca dos 300.000 em fichas. Pouco tempo depois, anunciaram que ele tinha ultrapassado a marca de 500.000, e eu comecei a notar que ninguém mais no salão inteiro tinha mais do que 250.000. Como Esfandiari tinha acumulado todas essas fichas? No intervalo, eu o encontrei, e ele me falou: “Phil, eu nunca me dei tão bem em toda minha vida. Eu jogo cada mão, e seja lá o que eu tenha em mãos bate no bordo!” Eu então ouvi sobre um 108.

Eis o que Esfandiari tinha a dizer sobre essa mão: “Um jovem gênio da internet veio para minha mesa e eu simplesmente sabia que ele iria tentar me derrotar. Na primeira mão em que ele estava na mesa, eu aumentei, outra pessoa reaumentou, e eu larguei. Na mão seguinte, aumentei com 108, e o garoto, que tinha 100.000 na sua frente, reaumentou mais 7.000, fazendo tudo 10.000. Achei que ele estivesse fraco, então decidi voltar um reraise, fazendo tudo 30.000. O garoto simplesmente pagou, e eu pensei: ‘Cara, eu acho que me dei mal nessa’. Eu também pensava: ‘Como diabos eu me meti nessa situação horrível? Eu posso perder 50.000 blefando com um dez!’ Mas então o flop veio 8-8-3, e esse pensamento saiu depressa da minha mente, pois eu tinha flopado uma trinca de oitos!

“Agora veja isso: eu sei que teria apostado no flop se não tivesse nada, e sei que esse garoto estava esperando uma continuation bet. Portanto, tomei a iniciativa e o garoto pagou, para tentar um float [um grande blefe] no turn. A carta do turn foi uma dama, e eu pedi mesa, para que o garoto ele blefasse. Meu plano era fazer um check-raise. Como era de se esperar, depois que eu pedi mesa, ele apostou, e eu aumentei. Então, o garoto foi all-in, e eu paguei depressa. Ele mostrou K-Q offt, e eu mostrei minha trinca de oitos”.

Esfandiari continuou: “Eu achei essa mão poética — quer dizer, poesia em ação! Gostei principalmente da dor visível na cara do garoto, quando ele percebeu que tinha sido eliminado. Não teve preço para mim! Depois de mais uma hora, eu tinha 600.000 em fichas na minha frente, mas não conseguia parar de fazer moves [Antonio deu um tapa em sua mão esquerda ao dizer isso] e acabei o dia com 405.000”.

Os 405.000 com que Esfandiari terminou o Dia 2 ainda foram suficientes para ele ter a liderança em fichas no começo do Dia 3, mas ele por pouco não chegou a ganhar dinheiro nesse torneio.

O aumento de 7.000 pré-flop do garoto com K-Q foi bom, pois ele era favorito em 3-2 para ganhar o pote. Dou crédito a Esfandiari por fazer uma boa leitura ao achar que o garoto estava fraco (aliás, o garoto tinha apenas K-Q), e reaumentar mais 20.000. Dou crédito ao garoto por pagar, mas se ele tivesse ido all-in ali mesmo, teria ganhado o pote, e eu daria a ele bastante crédito. Adoro a tomada de iniciativa de Esfandiari no flop; ele parecia saber que seu oponente estava esperando que ele continuasse apostando, pois fez com que o garoto pagasse com K-Q quando Esfandiari tinha três oitos. Eu também adoro o check-raise de Esfandiari no turn; mais uma vez, ele sabia que seu oponente esperava um pedido de mesa e estava planejando um grande blefe. Conheça seu oponente, a maneira como ele pensa, o que ele espera que você faça e que contra-ataque você pode usar contra ele. Bela jogada, Mágico!




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