EDIÇÃO 27 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Em Que Não Se Deve Pensar

Fazendo uma jogada perdedora para construir uma imagem


Barry Tanenbaum
Você está adentrando nos estágios intermediários de um torneio. Está feliz porque está jogando um bom poker e aumentou seu estoque de 5.000 para 6.800.

Com blinds em 100-200, você está no big blind com 8-8. Um jogador difícil e agressivo, que vinha aumentando muito, deu raise para 700. Ele sofreu um pouco devido a essa agressividade, e tinha 4.500 em seu estoque antes do raise. Você o coloca em duas overcards e dá call depois que todo mundo deu fold.

Você gosta do flop 9-6-2 rainbow. Resolve dar check e esperar que seu oponente faça uma continuation-bet de mais ou menos 1.200 no pote de 1.600, para então fazer uma jogada. Contudo, depois do seu check, ele vai-all in com 3.800.

Ele tem sido agressivo, mas não irresponsável, e aqui ele está fazendo uma jogada repentina colocando todas as suas fichas. A primeira coisa que passou pela sua mente foi que você tem mais fichas que ele, e que inicialmente o colocou em duas overcards. Você pode manter essa leitura e dar call.

Mas depois percebe que gastaria 3.800 de seus 6.100 remanescentes. São muitas fichas e, caso você perca, sairá de uma posição confortável para um estoque pequeno de 2.300.

Você acha que seria bom ganhar e eliminar um oponente incômodo. E seria ótimo detectar um move e ganhar um estoque enorme, embora ainda esteja relativamente no começo do evento. Mas é mesmo um move?

Você não é um desses jogadores médiuns cuja leitura inicial está sempre correta. Ele poderia facilmente ter um overpair, o que seria totalmente consistente com seu jogo, em vez de duas cartas altas que você acha (espera) que ele tenha.



Mesmo que seu par seja bom, você ainda não tem uma mão ganhadora. Se seu par não for bom, você tem um draw muito fraco. Depois de pensar um pouco, talvez até tentando obter uma tell perguntando algo, você decide que não quer arriscar a maioria de suas fichas com um par de oitos nesse estágio do evento. Deve haver oportunidades melhores adiante.

Mas antes de descartar sua mão, recomeça a raciocinar. Você levou muito tempo para decidir dar fold. Para todo mundo na mesa, está claro que você tem uma mão no mínimo decente e, quando der fold, ficará igualmente claro que você foi afastado por um oponente agressivo. Você conclui que, se der fold agora, as pessoas vão ser encorajadas a lhe atacar mais tarde, pois está dando fold com uma boa mão.

Esse problema de imagem lhe incomoda. Se você der call, mesmo que perca, vai fazer com que os outros oponentes temam fazer um move contra você, o que vai deixar sua vida mais fácil. E você de qualquer forma estava querendo pagar mesmo.

Você dá call, seu oponente mostra A-9 offsuit, um par de noves, e você lhe entrega a maior parte de seu stack.
Viu o que aconteceu aqui? Você refletiu um pouco sobre o que fazer e chegou a uma conclusão. Então, pelo fato de você ter pensado, acabou repensando e chegando a uma conclusão diferente.

Pensar quando se está na mesa de poker é bom. Pensar sobre a melhor jogada é excelente. Mas pensar sobre as consequências de fazer a jogada correta, e depois fazer a jogada errada por razões secundárias, custa caro. Quando decidir qual é a jogada correta, faça-a. Lide com as consequências, problemas de imagens e outros problemas depois. Dois terços de seu estoque é muito para se pagar por uma imagem melhor.

Além do mais, a questão da imagem ou outra coisa na qual esteja pensando pode facilmente agir em seu benefício. Por exemplo, na mão acima, talvez alguém faça uma jogada contra você quando você tiver uma boa mão, e vai lhe dar as fichas. Não há como saber.

Um exemplo de limit hold’em: Vamos usar um exemplo de cash game de limit hold’em acerca desse mesmo princípio. Você está há 20 minutos em uma mesa $20-$40. Pouca coisa aconteceu, e você não se envolveu em nenhuma mão.

Agora você recebe um par de damas negras em posiçao intermediaria e abre raise. O button e o big blind dão call. O flop vem 8 7 4. O big blind dá check, você aposta e ambos pagam. O turn é o 6. Não é ótimo, mas você aposta depois que o big blind dá check. O button dá fold e o big blind dá check-raise.



Acontece que você já jogou contra esse oponente muitas vezes. Ele não blefa. Ele está ganhando de você, quase certamente com uma sequência. Se ele tiver um straight, você tem uma queda morta. Mesmo que ele tenha dois pares, você (a) precisa melhorar e (b) precisa saber se ele melhorou também.

O pote lhe dá odds de 8-1 nesse raise, mas você teria de colocar outra aposta para ver a mão dele.

Você pode dar call e fold no river se nada bom aparecer, dar call duas vezes de qualquer forma e esperar que dessa vez ele finalmente tenha blefado, ou apenas dar fold calmamente. Você reflete um pouco sobre isso e decide que, nesse caso, contra esse oponente, é melhor dar fold.

Mas espere. Essa é a primeira mão que você jogou nessa mesa. Em regra, você odeia parecer fraco no começo de uma sessão dando um fold com uma mão claramente boa diante do que parece ser, sob a ótica de todo mundo, um blefe. Afinal, ele poderia ter 9-8 ou A 6 (embora você saiba que esse oponente daria check-call com tais mãos).

Você conclui que parecer um covarde no início da sessão pode arruinar sua imagem. Você decide dar dois calls, praticamente entregando ao big blind um presente de $80 de modo a parecer forte.

Mais uma vez, você pensou em como agir e tomou uma decisão razoável, e depois mudou de ideia porque ficou mais preocupado com sua imagem do que com a melhor jogada para essa mão.

Conclusão: Tais situações ocorrem todo dia. Jogadores decidem fazer jogadas com base no que acham que vão aparentar ou no que ele acha que seus oponentes vão achar deles, em vez de qual é a melhor jogada para a mão que têm.

Não há dúvida de que a imagem na mesa é importante. Você deve estar sempre atento a sua imagem e em como os jogadores estão reagindo a ela. Mas criar essa imagem deve ser resultado do que acontece na mesa, não de uma tentativa de mascará-la fazendo jogadas incorretas.

Quando você decidir a jogada correta, faça-a. Mais tarde você pode determinar como os outros jogadores vão reagir e jogar de acordo com isso. Jamais faça uma jogada errada para construir uma imagem.


NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×